A menina silenciosa

A menina silencioa
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A menina silenciosa é um filme irlandês lançado em 2022, dirigido por Colm Bairéad, baseado no conto “Foster”, da premiada autora Claire Keegan. Tanto o filme quanto o livro contam uma história sobre abandono, amor e a reconstrução dos laços afetivos fora dos laços de sangue.

Nesta resenha, vamos explorar a relação entre o livro “Foster” e a adaptação cinematográfica “A menina silenciosa”, refletindo sobre como o amor pode ser construído em pequenos gestos silenciosos.

A jornada silenciosa de Cáit

Em “Foster” e em sua adaptação “A menina silenciosa”, conhecemos Cáit, uma menina de aproximadamente 9 anos que cresce em uma família disfuncional em uma zona rural da Irlanda nos anos 80. Filha de um casal frio e negligente, ela é apenas mais uma entre muitos irmãos, vivendo isolada emocionalmente em uma casa que reflete esse abandono.

O pai, um homem impaciente e viciado em apostas, pouco contribui para o sustento da casa. A mãe, emocionalmente ausente, aguarda mais um filho, mesmo sem conseguir cuidar dos que já tem.

Para aliviar a carga familiar, Cáit é enviada para passar o verão na casa de Edna e John Kinsella, parentes distantes da mãe. É nesse novo lar que a história de Foster começa verdadeiramente a se desenrolar.

Um novo lar

Desde sua chegada à fazenda dos Kinsella, Cáit experimenta gestos simples de carinho que eram completamente desconhecidos para ela. Edna, com toda sua gentileza, a recebe com um beijo no rosto e um banho quente, enquanto John, apesar da reserva inicial, aos poucos também se aproxima.

A relação entre eles é construída lentamente, respeitando o silêncio da menina — algo que seus próprios pais nunca foram capazes de fazer. Um detalhe que me marcou em A menina silenciosa é a presença do quadro Madonna Del Granduca , de Rafael, que simboliza o cuidado materno e o pesar de Maria diante do destino de Jesus — um paralelo sutil com a realidade de Cáit em sua família biológica.

O silêncio que diz tudo

Uma das passagens mais bonitas de “Foster” mostra como o silêncio entre Cáit e os Kinsella é carregado de significado:

“Nenhum de nós fala, do jeito que as pessoas às vezes não falam quando estão felizes – mas assim que tenho esse pensamento, percebo que o oposto também é verdade.”

O silêncio pode ser conforto ou solidão. E é nesse jogo de interpretações que o laço entre Cáit e seus novos cuidadores se fortalece.

A metáfora da corrida

Uma das cenas mais simbólicas de A menina silenciosa é a corrida de Cáit até a caixa de correio. Incentivada por John, a menina corre livremente pela propriedade — um gesto simples que representa sua liberdade emocional recém-descoberta.

A partir desse momento, a menina, que antes se arrastava pela vida sem esperanças, começa a florescer. Pequenos gestos como ajudar na cozinha, buscar correspondência e ganhar roupas novas se tornam provas silenciosas de que ela finalmente encontrou um lugar onde é amada.

A descoberta do luto e da (re)construção

Durante sua estadia, Cáit descobre que os Kinsella perderam um filho. Saber que está vestindo as roupas do menino falecido poderia ter afastado a garota, mas, em vez disso, solidifica ainda mais o elo entre eles.

O amor que nasce entre Cáit, Edna e John não é instantâneo — ele é construído lentamente, com paciência, respeito e cuidado. Como disse meu pai certa vez: “O amor se constrói”.

E isso se prova verdadeiro em Foster e A menina silenciosa: laços sanguíneos podem não significar nada sem o amor genuíno, enquanto o afeto verdadeiro pode florescer mesmo sem uma ligação biológica.

Quando o silêncio é o maior gesto de amor

Ao término de sua estadia na fazenda, Cáit é forçada a retornar para casa. A despedida é profundamente dolorosa: correndo atrás do carro dos Kinsella, ela alcança John e o abraça com força, chamando-o de “Daddy” — um gesto que sela, de forma definitiva, que John e Edna se tornaram a verdadeira família que ela jamais teve.

Foi no respeito pelo silêncio de Cáit que os Kinsella mostraram o amor mais puro: a capacidade de entender sem palavras, algo que seus pais biológicos nunca conseguiram.

Afastar-se para sobreviver

Como escreveu Elena Ferrante em “A Garota Perdida”:

“Às vezes, precisamos fugir para não morrer.”

A história de Cáit reforça essa necessidade de afastamento de ambientes tóxicos. Não devemos nos forçar a perdoar quem nos machuca em nome de uma obrigação social ou religiosa. Assim como Cáit, às vezes o melhor é buscar um novo caminho — mesmo que silenciosamente.

Falo um pouco mais sobre esse tema na resenha do livro Tudo é rio, da Carla Madeira.

Foster Home e o amor que se escolhe

Ao refletir sobre “Foster” e “A menina silenciosa”, é inevitável pensar nas famílias formadas pelo afeto, como acontece nos processos de adoção.

No Brasil, de acordo com a Agência Brasil, existem mais de 46 mil pretendentes cadastrados para adoção, enquanto pouco mais de 3.800 crianças e adolescentes aguardam por um lar. Porém, a maioria dos pretendentes prefere adotar crianças pequenas, deixando adolescentes, grupos de irmãos e crianças com necessidades especiais à margem.

Essa realidade mostra que, infelizmente, ainda há barreiras emocionais e sociais para a construção de famílias baseadas apenas no amor, e não nos laços sanguíneos.

Conclusão: o poder do amor silencioso

“Foster” e “A menina silenciosa” são obras que nos ensinam que o amor verdadeiro se constrói nas pequenas ações, no respeito, e, muitas vezes, no silêncio.

A história de Cáit nos lembra que todos merecem ser vistos, ouvidos e cuidados — mesmo quando não conseguem pedir por isso. Afinal, às vezes o maior gesto de amor é simplesmente estar presente, mesmo que seja em silêncio.

A menina silenciosa é um filme irlandês lançado em 2022, dirigido por Colm Bairéad, baseado no conto “Foster”, da premiada autora Claire Keegan. Tanto o filme quanto o livro contam uma história sobre abandono, amor e a reconstrução dos laços afetivos fora dos laços de sangue.

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