“Satántangó” – László Krasznahorkai

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Satántangó

Satántangó, ou O Tango de Satã, é o livro de estreia do escritor húngaro László Krasznahorkai, publicado pela primeira vez em 1985. No Brasil, a obra foi lançada somente no final de 2022 pela Companhia das Letras. Este romance não só consolidou Krasznahorkai como uma voz única na literatura contemporânea, mas também serviu de base para o roteiro do filme homônimo de 1994, dirigido por Béla Tarr. O filme é notável por sua duração de sete horas, sendo considerado um dos mais longos da história do cinema.

A História de Satántangó

O livro se passa em um assentamento húngaro durante ou logo após o período comunista. Os poucos habitantes desse lugar marginalizado e lamacento vivem uma existência marcada pela desesperança e monotonia. Entre os moradores, encontramos casais, algumas crianças, o dono de uma taverna e um médico alcoólatra que observa a vida dos outros pela janela de sua casa.

Todos estão presos em uma rotina de espera interminável, enquanto a chuva incessante contribui para a atmosfera opressiva do local.

Um dia, os moradores recebem a notícia de que dois antigos habitantes, Irimiás e Petrina, dados como mortos após desaparecerem por 18 meses, estão voltando para o assentamento. A chegada iminente desses forasteiros causa um grande alvoroço. Os moradores se reúnem na taverna para beber, dançar ao som de um acordeom e, naturalmente, continuar esperando.

Eles continuam sentados no mesmo lugar, no mesmo banco imundo, devoram ensopado de batata toda noite e não entendem o que pode ter acontecido. Observam uns aos outros, desconfiados, arrotam alto no silêncio e – esperam: Esperam ansiosos e pacientes, e pensam que foram simplesmente enganados Esperam à espreita como gatos na matança de porcos para ver se sobra algum pedaço.

Pág. 43

Os Forasteiros

Irimiás e Petrina são personagens envoltos em mistério. Eles podem ser demônios, ladrões disfarçados dos antigos moradores ou algum tipo de messias trazendo redenção para aquela terra esquecida. A expectativa criada em torno de seu retorno transforma-os em figuras quase idolatradas pelos moradores. Irimiás, em particular, tenta persuadir os habitantes a abandonarem o assentamento e segui-lo para um lugar desconhecido, colocando-os diante de uma escolha crucial.

Uma Experiência Literária Única

Satántangó é uma obra singular que desafia o leitor em diversos níveis. Embora relativamente curto, com cerca de 220 páginas, a densidade de sua narrativa faz com que a leitura pareça a de um livro muito mais longo. A sensação de lentidão no desenrolar da história espelha a própria trama e o ritmo do filme de Béla Tarr. No entanto, há uma poesia na cadência lenta da narrativa que se revela ao leitor atento.

Os diálogos no livro são escritos de maneira contínua, sem quebras de linha, o que pode causar uma certa confusão sobre quem está falando ou pensando. Essa técnica reflete a natureza intrincada dos pensamentos e interações dos personagens, aprofundando a imersão do leitor na atmosfera claustrofóbica e melancólica do assentamento.

A Espera como Tema Central

A espera é um tema central em Satántangó, remetendo a obras como O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati, onde personagens aguardam por uma ameaça que nunca se materializa. Em Satántangó, os habitantes do assentamento esperam por uma salvação que nunca chega, presos na ilusão de que a paciência e a inércia resolverão seus problemas.

O Tango de Satã

O título Satántangó se refere ao tango, uma dança de pares que se originou em Buenos Aires, caracterizada por sua tristeza e sensualidade. A estrutura do livro reflete essa dança, sendo dividido em duas partes: a primeira com capítulos de 1 a 6, e a segunda com capítulos de 6 a 1. Essa repetição e simetria ecoam o movimento do tango, reforçando a temática de ciclos intermináveis e a inescapável repetição da vida dos personagens.

O Tango de Satã

Melancolia e Crueldade

Satántangó é permeado por uma melancolia profunda, com personagens que exibem crueldade e desespero. A atmosfera do livro é sombria, marcada pela desesperança e trágica condição humana. A obra de Krasznahorkai, com sua prosa densa e poética, oferece uma experiência de leitura que desafia e recompensa o leitor, deixando uma impressão duradoura sobre a natureza da espera e da inevitabilidade dos ciclos da vida.

Nascemos como num chiqueiro, pensou ainda com o cérebro zumbindo, nesse mundo cercado, e como porcos que chafurdam na própria imundície, não sabemos para que serve essa aglomeração em torno dos recém-nascidos que se alimentam, para que serve a luta eterna na lama que leva ao cocho ou, no crepúsculo, aos lugares de dormir.

Pág. 121

Conclusão

Satántangó é um livro que transcende a narrativa tradicional, mergulhando o leitor em uma exploração profunda da melancolia. A obra de László Krasznahorkai, ao lado do filme de Béla Tarr, cria uma experiência artística única que continua a ressoar e a inspirar discussões sobre a condição humana e os limites da narrativa. A tardia publicação em português é uma oportunidade para um novo público descobrir e apreciar essa obra incrível da literatura mundial.

Publicado na Hungria em 1985, Sátántangó é um romance monstruoso. A ação se concentra na chegada de um homem misterioso, que pode ser um profeta, um vigarista, ou o próprio demônio, a uma aldeia húngara onde a chuva não para de cair.

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